quarta-feira, 26 de maio de 2010

É A DEMOGRAFIA, ESTÚPIDO!

É a demografia, estúpido!
EDITORIA - MÍDIA SEM MÁSCARA
http://www.midiasemmascara.org/
POR MARK STEYN

Esqueça os desastres ecológicos e as causas ambientalistas - o suicídio demográfico é a principal razão pela qual o Ocidente corre risco de extinção.

Como a maioria das pessoas que lerão este artigo dispõe de estômagos fortes, permitam-me expressar isto da maneira a mais direta possível: muito do que nós vagamente denominamos "Ocidente" não sobreviverá a este século, e muito dele efetivamente desaparecerá ainda em nosso tempo de vida, incluindo muitos se não a maioria dos países da Europa Ocidental. Provavelmente ainda haverá uma região geográfica marcada no mapa como Itália ou Holanda - provavelmente - da mesma maneira como em Istambul ainda há um edifício chamado Catedral de Santa Sofia. Mas não se trata de uma catedral; ela é apenas um conjunto de imóveis. Da mesma maneira, Itália e Holanda não passarão de nomes de territórios. O desafio para aqueles que consideram a civilização ocidental melhor do que suas alternativas é descobrir uma maneira de salvar pelo menos algumas partes do Ocidente. Um obstáculo a isto é que, na típica campanha eleitoral das democracias industriais avançadas, as plataformas políticas de pelo menos um partido nos Estados Unidos e de praticamente todos os demais partidos no restante do Ocidente giram em torno, em grande parte, do que poderíamos denominar de impulsos secundários da sociedade - sistema público de saúde, creches públicas (que o Canadá pensa em implementar), licença paternidade (que a Inglaterra acabou de implementar). Nós acabamos por priorizar os impulsos secundários sobre os primários: a defesa nacional, a família, a fé e, o mais básico de todos, a atividade reprodutiva - "Ide e multiplicai-vos," porque se você não o fizer, não terá como arcar com o custo de todos aqueles impulsos secundários, a exemplo de um sistema de bem-estar social que vá do berço ao túmulo. Os americanos muitas vezes não entendem o quão longe neste caminho a maioria dos países desenvolvidos já avançou: no Canadá e na maioria dos gabinetes ministeriais do continente europeu, o Ministério da Defesa é algo pelo qual um político ambicioso passa em seu caminho ascendente rumo a um trabalho importante tal qual o Ministério da Saúde. Eu não acho que Don Rumsfeld veria como uma promoção ser remanejado para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos ( Health and Human Services).

A falha de projeto de um Estado social-democrata secular é que ele requer a taxa de nascimentos de uma sociedade religiosa para sustentá-lo. O hiper-racionalismo pós-cristão é, em termos objetivos, bem menos racional do que o catolicismo ou o mormonismo. De fato, como depende da imigração para garantir seu futuro, a União Européia adotou uma versão século XXI da estratégia dos shakers (Em inglês "shaker" significa sacudidor, agitador, convulsionário etc. Era o nome que se dava aos membros da seita religiosa chamada Igreja do Milênio. Praticavam o celibato e a posse comunal de bens. Devido às perseguições que sofriam na Europa, resolveram emigrar para os Estados Unidos por ocasião da Guerra da Independência), que eram proibidos de se reproduzir e, portanto, só podiam aumentar seu número por meio de conversões.

O problema é que sociedades fundadas em impulsos secundários erram ao tomar por fortes seus pontos fracos - ou, de qualquer modo, por virtudes - e é este o motivo pelo qual elas se mostram tão frágeis ao lidar com uma força primária como o Islã. Por falar em Islã, se estamos em guerra - e metade do povo americano e uma parcela significativamente maior de britânicos, canadenses e europeus não aceita esta proposição - então sobre o que, exatamente, é esta guerra? Sabemos que ela não é realmente uma "guerra contra o terror". Ela também não é, em sua essência, uma guerra contra o Islã, ou mesmo contra o "Islã radical". A fé islâmica, quaisquer que sejam seus méritos para seus crentes, é um negócio complicado para nós. Há muitas áreas problemáticas ao redor do mundo, mas como regra geral é fácil fazer uma aposta educada quanto à identidade de um dos participantes: muçulmanos vs. judeus na "Palestina", muçulmanos vs. hindus na Caxemira, muçulmanos vs. cristãos na África, muçulmanos vs. budistas na Tailândia, muçulmanos vs. russos no Cáucaso, muçulmanos vs. turistas mochileiros em Bali. Da mesma maneira que os ambientalistas, esses caras pensam globalmente mas agem localmente. E conquanto o Islã seja o inimigo, não é disto que se trata.

O Islã radical é uma infecção oportunista, como a AIDS: não é o HIV que te mata, é a pneumonia que você pega quanto seu corpo está muito fraco para poder enfrentá-la. Quando os jihadistas entram em combate direto com o exército americano, eles perdem - como aconteceu no Afeganistão e no Iraque. Se a coisa fosse como na Primeira Guerra Mundial, com aqueles sujeitos em uma trincheira e nós na outra os encarando por cima de um pedaço de terreno enlameado, ela estaria terminada em bem pouco tempo. Isso os muçulmanos radicais mais inteligentes já perceberam. Eles sabem que nunca venceriam no campo de batalha, mas calculam haver uma excelente chance de que, se gastarem tempo suficiente, a civilização ocidental terminará por desmoronar sobre si mesma, com o Islã vencendo por default.

A guerra se resume a isto: nossa falta de confiança civilizacional. Como uma famosa citação de Arnold Toynbee bem o coloca: "Civilizações morrem de suicídio, não de assassinato" - como pode ser visto em muito do "mundo ocidental" neste exato instante. A agenda progressista - bem-estar social abundante, aborto, secularismo, multiculturalismo - é coletivamente a verdadeira bomba suicida. Pegue o multiculturalismo. A grande sacada do multiculturalismo é que ele não está nem aí para as outras culturas - a capital do Butão, os principais produtos de exportação do Malaui, quem se importa? Tudo que ele exige é que você se sinta bem com as outras culturas. Ele é fundamentalmente uma fraude, e eu diria que foi subliminarmente aceito nestas bases.

A maioria dos adeptos à idéia de que todas as culturas são iguais não querem viver em outra coisa que não seja uma sociedade ocidental avançada. O multiculturalismo significa seus filhos terem que aprender algum miserável hino fúnebre nativo para o concerto de Natal ao invés de cantarem "Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho", ou que sua massagista holística usa técnicas desenvolvidas a partir da espiritualidade dos nativos norte-americanos, mas não que você ou alguém que lhe seja caro devesse viver numa sociedade africana ou nativa norte-americana. Ele é a quintessência da enganação progressista. Então aconteceu o 11 de setembro. E a bizarra reação de praticamente todos os principais líderes ocidentais foi visitar uma mesquita: o presidente Bush o fez, o príncipe de Gales o fez, o primeiro-ministro da Inglaterra o fez, o primeiro-ministro do Canadá o fez... O premiê de Ontário não o fez, e em conseqüência 20 líderes comunitários muçulmanos organizaram uma grande conferência para denunciar sua falha em visitar uma mesquita. Não sei por que ele não o fez. Talvez houvesse uma grande fila de espera, era hora da troca de turno na mesquita, e primeiros-ministros congestionavam o trânsito nos dois sentidos da via que levava à Mesquita da Espada do Matador de Infiéis na Elm Street. Fosse qual fosse a razão, ele não pôde encaixar uma visita em sua agenda lotada. Já o ministro da Cidadania de Ontário apareceu em uma mesquita, mas os imãs tomaram isso como um grande insulto, algo como a Rainha da Inglaterra enviar a cantora Fergie para abrir os Jogos da Commonwealth. O resultado foi que o premiê de Ontário teve que realizar uma grande reunião com os imãs ofendidos para pedir-lhes desculpas por não visitar uma mesquita e, como o Toronto Star reportou, "para fornecer-lhes a garantia de que o governo provincial não os vê como inimigos".

Seja como for, a febre do leve-me-a-uma-mesquita-em-tempo acabou cedendo, mas ela marcou o tom de nossa abordagem geral para com essas atrocidades. A antiga definição para o nanossegundo era o tempo transcorrido entre a mudança da luz de um semáforo em Nova York e o disparo da primeira buzina de um carro logo atrás. A nova definição é a do tempo transcorrido entre uma explosão terrorista e o lançamento de um press release de um grupo de pressão muçulmano prevendo alguma retaliação contra muçulmanos. Na maioria dos casos seria considerado de extremo mau gosto desviar a atenção de um "crime de ódio" real por meio da divulgação de rumores sobre outro puramente hipotético. Desnecessário dizer que não há nenhuma campanha de crimes de ódio islamofóbicos. O que ocorre é que o Ocidente está mergulhado em uma epidemia de crimes de ódio contra si mesmo. Um comentário feito por um leitor do site australiano de Tim Blair resumiu bem a questão na forma de uma paródia perfeita de uma manchete do jornal The Guardian: "Líderes comunitários muçulmanos temem retaliação pelo ataque terrorista de amanhã de manhã." Esses líderes comunitários nos conhecem muito bem. O Islã radical é aquilo que o multiculturalismo esteve esperando todo este tempo.

Em "The Survival of Culture" (A Sobrevivência da Cultura), citei a eminente advogada Helena Kennedy, Conselheira da Rainha. Pouco depois do 11 de setembro, a baronesa Kennedy argumentava em um programa da BBC que era muito fácil desprezar os "fundamentalistas islâmicos." "Enquanto esquerdistas ocidentais, freqüentemente nós mesmos somos os fundamentalistas," reclamava ela. "Não encaramos nossos próprios fundamentalismos." Bem, disse o entrevistador, quais seriam exatamente esses fundamentalismos esquerdistas ocidentais? "Uma das coisas que estamos sempre prontos a insistir é que somos pessoas tolerantes e que a intolerância é algo que pertence a outros países, como o Islã. Não tenho tanta certeza de que isso seja verdade." Hmm. Lady Kennedy está dizendo que nossa tolerância para com nossa própria tolerância está nos tornando intolerantes perante a intolerância de outras pessoas, o que é intolerável. E, por mais improvável que isso soe, esta se tornou a mais alta, mais rarefeita forma de multiculturalismo. Então você é legal com os gays e esquimós? Grande coisa. Qualquer um pode ser tolerante para com gente desse tipo, mas tolerância para com a intolerância produz um frisson de prazer ainda mais profundo nos masoquistas multiculturais.

Em outras palavras, assim como a pandemia de AIDS facilitou imensamente a sujeição da sociedade à agenda gay, também o 9/11 está facilitando imensamente nossa sujeição aos aspectos mais extremados da agenda multicultural. Por exemplo, num dia qualquer de 2004, dois canadenses voltaram para casa, para o Aeroporto Internacional Lester B. Pearson, em Toronto. Eles eram o filho e a viúva de um sujeito chamado Ahmed Said Khadr, que lá atrás, na fronteira paquistano-afegã, era conhecido como "al-Kanadi". Por quê? Porque ele era o canadense de mais alto posto na al-Qaeda - havia vários outros canadenses na al-Qaeda, mas ele era o Número Um. Poder-se-ía de fato dizer que a família Khadr é a principal contribuição do Canadá na guerra ao terror. Claro, eles estão do lado errado (espero que me perdoem por incorrer em juízos de valor), mas ninguém pode dizer que eles não estão na crista da onda. Um dos filhos do sr. Khadr foi capturado no Afeganistão após matar um médico das Forças Especiais dos EUA. Outro foi capturado e feito prisioneiro em Guantánamo. Um terceiro se explodiu enquanto matava um soldado canadense em Cabul. O próprio papai Khadr morreu num tiroteio entre a al-Qaeda e forças paquistanesas no começo de 2004. E depois dizem que nós, os canadenses, não estamos fazendo a nossa parte nesta guerra! Durante o tiroteio que matou al-Kanadi, seu filho caçula acabou sofrendo paralisia. E, não sem razão, Júnior não apreciou a perspectiva de um hospital-prisão em Peshawar. A Sra. Khadr e seu garoto então retornaram para Toronto para que ele pudesse desfrutar dos benefícios do sistema público de saúde de Ontário. "Sou canadense, e não estou implorando por meus direitos", declarou a viúva Khadr. "Eu estou exigindo meus direitos."

Como sempre dizem, é difícil provar traição no tribunal, mas dadas as circunstâncias da morte do sr. Khadr, parece claro que ele estava não apenas fornecendo "auxílio e conforto aos inimigos da Rainha", mas que ele era, de fato, um inimigo da Rainha. A Infantaria Canadense Princesa Patrícia, o 22º Regimento Real e outros canadenses têm participado em um lado do conflito no Afeganistão, e a família Khadr esteve por lá participando do outro lado. Apesar disso, o primeiro-ministro do Canadá achou que as alegações do menino Khadr sobre o sistema público de saúde eram uma excelente oportunidade para demonstrar seu próprio comprometimento pessoal com a "diversidade". Questionado sobre o retorno dos Khadrs a Toronto, ele disse, "Eu acredito que, uma vez que você é um cidadão canadense, você tem direito a suas próprias opiniões e a discordar." Este é o aspecto maravilhoso do multiculturalismo: você pode escolher em qual lado da guerra quer lutar. Quando o cartão de alistamento chegar, apenas marque "time da casa" ou "inimigo", de acordo com suas preferências. O primeiro-ministro canadense é um típico político do estágio tardio do Ocidente.

Ele poderia ter dito: Bem, essas são pessoas desprezíveis e eu sei que a muitos de nós repugna a idéia de nossos impostos serem usados para fornecer assistência médica a um homem cuja cidadania canadense não passa de uma bandeira de conveniência, mas infelizmente essa é a lei e, ainda que possamos tentar endurecê-la, parece que essa ralé se deu bem nessa. Ao invés disso, seu instinto reflexo foi proclamar a coisa como uma entusiasmante demonstração das virtudes do estado multicultural. Como muitos líderes ocidentais iluminados, o primeiro-ministro canadense se congratulará por sua tolerância sem limites mesmo quando as forças da intolerância o estiverem consumindo. Este, aliás, é um dos pontos de similaridade entre a jihad e os movimentos terroristas convencionais como o IRA ou o ETA. Grupos terroristas persistem devido à falta de convicção da parte de seus alvos: o IRA, por exemplo, calculou corretamente que os britânicos tinham a capacidade de esmagá-los totalmente mas não teriam a disposição para tanto. Eles, portanto, sabiam que nunca pudessem vencer militarmente, mas também nunca poderiam ser derrotados.

Os muçulmanos radicais descobriram coisa semelhante. A única diferença é que a maioria das guerras terroristas são bastante localizadas. Agora nós temos a primeira insurgência terrorista verdadeiramente global porque os muçulmanos radicais vêem o mundo todo do modo que o IRA vê os lamaçais de Fermanagh: eles o querem, e calcularam que falta à nossa civilização inteira disposição para vê-los sumir. Nós gastamos um bocado de tempo na The New Criterion atacando as elites, e estamos certos em fazê-lo. Os altos comandantes da cultura têm se portado de maneira vergonhosa há várias décadas. Mas se este fosse um problema restrito às elites, ele não seria tão sério: a plebe poderia se levantar e enforcá-las nos postes de iluminação - um cenário nada incomum em certos países europeus. Mas agora o problema vai muito além do grupo dos mandatários. A absorção da maioria das responsabilidades centrais da vida pelo governo - criar seus filhos, cuidar de seus pais idosos - mudou profundamente o relacionamento entre o cidadão e o Estado. Em algum ponto - eu diria que um sistema de saúde público socializado é um bom marcador - você cruza uma linha, e a partir daí é muito difícil persuadir uma coletividade de cidadãos que desfruta de toda essa generosidade governamental a descruzá-la.

Recentemente, na National Review, eu discordei daquela linha que Gerald Ford sempre usa para obter a aprovação de platéias conservadoras: "Um governo grande o suficiente para lhe dar tudo que você quer é grande o bastante para tomar tudo que você possui." Na realidade, você começa a ter problemas bem antes desse ponto: um governo grande o suficiente para lhe dar tudo que você quer ainda não é grande o suficiente para fazer você dar qualquer coisa em troca. É isso que as classes políticas francesa e alemã estão descobrindo.

Volte àquela lista de conflitos locais que mencionei. A jihad tem resistido por bastante tempo contra inimigos bastante fortes. Se você não é tímido quando se trata de enfrentar os israelenses, os russos, os hindus e os nigerianos, porque não iria contemplar suas chances contras os belgas, os dinamarqueses e os neozelandeses? Segue-se que os jihadistas não estão fazendo nada mais do que nos dar um empurrão pelas costas enquanto caminhamos como sonâmbulos para o abismo. E quando digo "como sonâmbulos", não é porque sejamos uma cultura blasé. Pelo contrário, um dos sinais mais claros de nosso declínio é o modo como gastamos um enorme tempo nos preocupando com as coisas erradas. Se você leu o bestseller de Jared Diamond, "Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso", você sabe que ele entra em muitos detalhes sobre como a Ilha da Páscoa escorregou goela abaixo porque derrubou todas as suas árvores. Aparentemente é este o motivo de não serem membros do G-8 ou do Conselho de Segurança da ONU. Idem para os groenlandêses e os maias e as outras escolhas curiosas de "sociedades" de Diamond.

De fato, como o autor coloca, quase todas as sociedades entram em colapso porque derrubam suas árvores. O pobre coitado do Diamond não consegue ver a floresta por causa de sua obsessão com as árvores. (O colapso da Rússia prossegue apesar do reflorestamento pelo qual ela passa.) Uma das maneiras pelas quais "as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso" é escolhendo com o quê se preocupam. O mundo ocidental trouxe mais prosperidade e conforto a seus cidadãos do que qualquer outra civilização da história, e em retorno nós desenvolvemos um grande culto à preocupação. Você conhece os clássicos do gênero: em 1968, em seu bestseller "The Population Bomb" ( A Bomba Populacional), o eminente cientista Paul Ehrlich declarou: "Nos anos 1970, o mundo passará por períodos de fome generalizada - centenas de milhões de pessoas morrerão sem ter o que comer." Em 1972, em seu histórico estudo "Limites do Crescimento", o Clube de Roma anunciou que as reservas mundiais de ouro estariam exauridas em 1981, as de mercúrio em 1985, as de estanho em 1987, as de zinco em 1990, as de petróleo em 1992, e as de cobre, chumbo e gás em 1993.

Nenhuma dessas coisas aconteceu. Na verdade, o que anda ocorrendo é bem o oposto disso. N& oacute;s estamos praticamente mergulhados em recursos naturais, mas estamos começando a ficar sem pessoas - o único recurso realmente indispensável, sem o qual nenhum dos outros tem importância. O exemplo mais óbvio é o da Rússia: é o maior país da Terra, está cheia de recursos naturais, e apesar disso está morrendo - sua população vem diminuindo de maneira calamitosa. O modo padrão de nossas elites é que tudo o que acontece - do terrorismo aos tsunamis - só pode ser entendido como derivado da perniciosidade da civilização ocidental. Como Jean-François Revel escreveu, "Está claro que uma civilização que se sente culpada por tudo que é e por tudo que faz não terá energia nem convicção para se defender." E apesar de nenhum dos prognósticos dos filmes eco-apocalipticos dos anos 1970 ter-se realizado, tudo que isso implica é que, passados 30 anos, o fim do mundo tem que ser reagendado. Corrigido, o tempo de chegada estimado é agora 2032. Isto é, em 2002, o Panorama Ambiental Global da ONU ( United National Global Environmental Outlook) previu "a destruição de 70% do mundo natural em 30 anos, a extinção em massa de espécies. . . . Mais da metade do mundo será afligida por falta d'água, com 95% dos habitantes do Oriente Médio com sérios problemas . . . 25% de todas as espécies de mamíferos e 10% das de pássaros estarão extintas . . ." Etc., etc., por 450 páginas. Ou, indo direto ao ponto, como a manchete do The Guardian colocou, "A menos que mudemos nossos caminhos, o mundo confronta o desastre."

Bem, aqui está minha previsão para 2032: a menos que mudemos nossos caminhos, o mundo enfrenta um futuro... onde o meio ambiente parecerá estar muitíssimo bem. Se você for uma árvore ou uma pedra, sua vida será confortável. Os italianos e os suecos é que estarão confrontando a própria extinção e a perda de seu habitat natural. Não haverá nenhum dia do juízo final ambiental. Petróleo, emissões de dióxido de carbono, desmatamentos: não vale a pena se preocupar com nenhuma dessas coisas. O que é preocupante é que gastemos tanto tempo nos preocupando com coisas com as quais não vale a pena se preocupar, que acabemos não nos preocupando com coisas com as quais deveríamos estar preocupados. Por 30 anos, temos sido incessantemente chamados a tomar consciência de coisas sobre as quais não vale a pena tomar consciência. Mas para as alterações reais impostas sem qualquer remorso a nossa sociedade - aquelas que efetivamente ameaçam nosso futuro - para estas estamos completamente adormecidos. O mundo segue mudando dramaticamente, neste exato instante, e especialistas histéricos tagarelam sobre uma hipotética diminuição no krill antártico que talvez possa vir a acontecer num futuro tão distante que é pouco provável que ainda reste algum ecochato italiano ou japonês vivo capaz de ser devastado pelo ocorrido.

Numa economia globalizada, os ambientalistas querem que nos preocupemos com o capitalismo do Primeiro Mundo impondo seus costumes a países bucólicos, pastoris, primitivos e atrasados do Terceiro Mundo. E apesar disso, na medida em que a "globalização" é uma ameaça, o verdadeiro perigo é precisamente o inverso - que as peculiaridades dos atrasados possam alcançar instantaneamente o Primeiro Mundo. Porcos são bens preciosos e dormem na sala de estar na China rural - e a próxima coisa que você percebe é que uma doença respiratória desconhecida está matando gente em Toronto, só porque alguém entrou em um avião. É deste modo que devemos encarar o Islã: ficamos agitados devido ao McDonalds e à Disney, mas a grande história de sucesso da globalização é o modo como os sauditas pegaram o que 80 anos atrás era uma rígida mas obscura e nada importante facção do Islã praticada por beduínos sem moradia fixa e a exportaram com sucesso para o coração de Copenhague, Roterdã, Manchester, Buffalo . . .

Qual a melhor aposta? Uma globalização que exporta hambúrgueres e músicas pop, ou uma globalização que exporta os aspectos mais ferozes de sua cultura? Quando se trata de prever o futuro, a taxa de natalidade é o que temos de mais sólido. Se apenas um milhão de bebês nascerem em 2006, será difícil ter dois milhões de adultos entrando na força de trabalho em 2026 (ou 2033, ou 2037, ou seja lá quando tiverem obtido seu diploma em Gerenciamento de Ira e Estudos Homossexuais). E os dados sólidos referentes a bebês no mundo ocidental é que eles estão acabando bem mais rapidamente do que o petróleo. A taxa de fertilidade "de reposição" - isto é, o número de que você precisa apenas para manter uma população estável, que não esteja aumentando nem diminuindo - é de 2,1 bebês por mulher. Alguns países estão bem acima disso: o líder global em fertilidade, a Somália, está em 6,91; o Níger, 6,83; o Afeganistão, 6,78; o Iêmen, 6,75. Percebe o que essas nações têm em comum?

Navegue até o final da lista dos Cem Maiores e Melhores procriadores e você eventualmente encontrará os Estados Unidos, suspenso bem na taxa de reposição com 2,07 nascimentos por mulher. A Irlanda está em 1,87; a Nova Zelândia, 1,79; a Austrália, 1,76. Mas a taxa de fertilidade do Canadá caiu a 1,5, bem abaixo da taxa de reposição; a Alemanha e a Austrália estão em 1,3, na borda da espiral da morte; a Rússia e a Itália estão em 1,2; a Espanha, 1,1, cerca de metade da taxa de reposição. Isso é o mesmo que dizer que a população da Espanha diminui pela metade a cada geração. Por volta de 2050, a população da Itália terá diminuído em 22%, a da Bulgária em 36%, a da Estônia em 52%. Na América, as tendências demográficas sugerem que os estados progressistas (azuis) deveriam pedir sua associação honorária à União Européia: Nas eleições de 2004, John Kerry venceu nos 16 que têm as menores taxas de natalidade; George W. Bush levou 25 dos 26 estados com as maiores. Por volta de 2050, haverá 100 milhões de europeus a menos, 100 milhões de americanos a mais -- e a maioria de estados conservadores (vermelhos).Conforme a fertilidade murcha, as sociedades ficam mais velhas - e o Japão e muito da Europa caminham para se tornarem mais velhos do que qualquer sociedade funcional jamais foi. E nós sabemos o que vem depois da velhice. Esses países vão falir - a menos que encontrem a disposição para mudar de rumo. Será isso possível? Não creio.

Se olharmos os resultados das eleições européias - mais recentemente na Alemanha - será difícil não concluir que, embora os eleitores estejam insatisfeitos com seus governantes, essa insatisfação decorre principal mente de que eles se ressentem por ter-lhes sido pedido que reconsiderassem seus benefícios governamentais, e que, não importa o quão impossíveis de pagar estes possam vir a ser daqui a uma geração, os eleitores não têm a intenção de reconsiderá-los com seriedade. Recentemente, o governo escocês voltou atrás em uma proposta de aumentar a idade de aposentadoria dos trabalhadores públicos escoceses. Ela é atualmente de 60 anos, o que é agradável mas insustentavelmente caro. Só que a reação do trabalhador escocês médio é que isso é problema de outra pessoa. O trabalhador alemão trabalha na média 22% de horas a menos do que sua contraparte americana, e nenhum político que deseje continuar eleitoralmente viável proporá qualquer meio significativo de eliminar essa disparidade. Não se trata de divergências culturais profundamente enraizadas entre o Velho e o Novo Mundos. Sua antigüidade vai até, oh, os anos 1970. Quem quisesse definir um culpado poderia argumentar que este foi um resultado da presença militar dos EUA, a garantia de segurança americana que liberou os orçamentos europeus: ao invés de gastar dinheiro em armas, eles puderam se concentrar em manteiga, e em bajular os eleitores (O autor faz um trocadilho entre manteiga, butter, e bajular, buttering)

Se o problema de Washington com os estados europeus é que estes não são aliados sérios, bem, de quem é a culpa por isso? Quem, nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, criou a OTAN como uma aliança militar pós-moderna? O "mundo livre", como os americanos o chamavam, foi um presente imerecido para todos os demais. E, tendo sido liberados das responsabilidades primárias da nacionalidade, não surpreende nem um pouco que as nações européias tenham pouco interesse em reassumi-las. Em essência, os níveis despropositados da saúde pública no continente são subsidiados pelos contribuintes americanos. E esse amolecimento de longa data de grandes parcelas do Ocidente as torna pouco aptas a resistir a uma força primária como o Islã. Não há nenhuma "bomba populacional". Nunca houve. As taxas de natalidade estão diminuindo em todo o mundo - com o tempo, todos os casais no planeta poderão optar pelo modelo ocidental yuppie de um bebê planejado aos 39 anos de idade. Mas a demografia é um jogo. Os grupos que sucumbirem por último à apatia demográfica terão uma enorme vantagem.

Mesmo em 1968, os Paul Ehrlichs da vida deveriam ter entendido que sua "explosão populacional" era, na realidade, um enorme ajuste populacional. Do aumento populacional global entre 1970 e 2000, o mundo desenvolvido foi responsável por menos de 9%, enquanto que o mundo muçulmano responde por 26%. Entre 1970 e 2000, o mundo desenvolvido diminui de pouco menos de 30% da população mundial para pouco mais de 20%, enquanto que as nações muçulmanas aumentaram de cerca de 15% para 20%. Mil novecentos e setenta não parece tão longe assim. Se você tem a idade que muitos dos sujeitos que hoje mandam no mundo ocidental costumam ter, suas calças são mais apertadas do que costumavam ser naquela época e seu cabelo é menos maneiro, mas a aparência de sua vida - a jeitão de sua casa, do seu carro, dos seus utensílios domésticos, os nomes das marcas das coisas na geladeira - não é significativamente diferente. À parte a Internet e os telefones celulares e o CD, tudo o mais em seu mundo parece praticamente igual ainda que ligeiramente modificado. E no entanto o mundo está totalmente alterado. Apenas para recapitular aquelas estatísticas áridas: em 1970, o mundo desenvolvido ocupava uma fatia duas vezes maior da população mundial do que o mundo muçulmano: 30% a 15%. Em 2000, elas eram a mesma: cada uma com aproximadamente 20%. E em 2020?Portanto a população mundial é hoje muito mais islâmica do que naquela época, e muito menos "ocidental". A Europa já é significativamente mais islâmica, tendo recebido durante esse período cerca de 20 milhões de muçulmanos (oficialmente) -- ou o equivalente às populações de quatro países da União Européia (Irlanda, Bélgica, Dinamarca e Estônia). O Islã é a religião que cresce mais rápido no Ocidente: No Reino Unido mais muçulmanos do que cristãos participam de serviços religiosos a cada semana. Podem essas tendências continuar por mais 30 anos sem que haja conseqüências? Lá pelo fim do século, a Europa será um continente pós-bomba de nêutrons: os grandes edifícios continuarão de pé, mas as pessoas que os construíram terão partido. Nós estamos vivendo um período extraordinário: a auto-extinção das raças que, para o bem ou para o mal, formaram o mundo moderno.

"O Ocidente", como um conceito, está morto, e o Ocidente, enquanto fato demográfico, está morrendo. Com o quê a Europa se parecerá ao final desse processo? Quem sabe? Por um lado, há algo a ser dito quanto à noção de que numa Europa islamizada a América terá algo mais direto com que lidar do que com Monsieur Chirac, Herr Schroeder & Cia. Pelo outro, dada a história européia, chegar lá pode se mostrar algo bastante sangrento. Mas seja como for, é este o verdadeiro campo de batalha. Os dementes da al-Qaeda podem jamais vir a encontrar pilotos suicidas suficientes para derrubar aviões suficientes sobre arranha-céus suficientes para fazer a América tombar. Mas ao contrário de nós, os muçulmanos radicais pensam no longo prazo, e, dada sua vantagem demográfica na Europa e o tom dos grupos de pressão muçulmanos, a causa que faz com que joguem aviões em edifícios provavelmente será alcançada simplesmente esperando mais alguns anos. Os arranha-céus serão deles; porque derrubá-los? A metade tardia do declínio e queda de grandes civilizações segue um padrão familiar: abundância, fraqueza, decadência, extinção. Você não se percebe deslizando através desses estágios porque costuma sempre haver um político à mão para fornecer à época um slogan malicioso e auto-ilusório - como o "É para o futuro de nossas crianças" de Bill Clinton. Nós, da direita, gastamos os anos 1990 alegremente zombando da tagarelice tediosa do sr. Clinton que respingava feito melado sobre tudo, da guerra do Kosovo à apropriação de auto-estradas. Mas a maioria do Ocidente não pode sequer copiar seus clichês mancos: uma sociedade que não tem crianças não tem futuro. Permanência é a ilusão de todas as eras.

Em 1913, ninguém imaginava que os impérios russo, austríaco, germânico e turco teriam desaparecido dentro de meia década. Passados setenta anos, todos os sujeitos que rejeitavam Reagan como um "tolo afável" (nas palavras de Clark Clifford) garantiam-nos que a União Soviética também estava aqui para ficar. A posição dos analistas da CIA era de que a Alemanha Oriental era o nono maior poder econômico do mundo. Em 1987 não havia nenhuma chuva de especialistas prevendo a iminente queda do Muro de Berlim, do Pacto de Varsóvia e da própria URSS. Ainda assim, mesmo pelos padrões mínimos desses precedentes miseráveis, as assim chamadas civilizações pós-cristãs - como um proeminente oficial da União Européia me disse - são mais propensas a acreditar que o presente possui características permanentes do que as sociedades tradicionais. As culturas religiosas têm um senso de passado e futuro muito mais amplo, como nós tínhamos um século atrás, quando falávamos da morte como o ato de nos juntarmos "à grande maioria" no "mundo invisível". Mas se o ponto de partida do secularismo é que isto é tudo que há, não surpreende que, conscientemente ou não, eles invistam o aqui e o agora de um poder de durabilidade muito maior do que ele jamais teve. A idéia de que o Estado de bem-estar social progressista em moldes europeus seja o destino final permanente do desenvolvimento humano sempre foi tola; e hoje nós sabemos que ela o é ao ponto do suicídio. Para evitar o colapso, as nações européias terão que receber imigrantes a uma taxa que nenhuma sociedade estável jamais tentou.

A CIA prevê que a União Européia entrará em colapso por volta de 2020. Dado que a CIA errou em quase tudo por meio século, isso sugere que a União Européia tem mesmo é chances de ser o colosso do novo milênio. Mas mesmo uma assombração fracassada está certa duas vezes a cada geração. Seja como for, a data do colapso da União Européia é uma estimativa cautelosa. É mais provável que dentro do próximo par de ciclos eleitorais europeus as contradições internas da União Européia se manifestem do modo usual, e que por volta de 2010 estaremos vendo todas as noites, nas redes de notícias americanas, imagens de prédios queimando, batalhas campais nas ruas e assassinatos. Mesmo que eles evitem isso, a idéia de uma Europa sem crianças capaz de rivalizar militarmente ou economicamente com a América é risível. Em algum momento neste século haverá 500 milhões de americanos, e o que restar da Europa será ou muito idosa ou muito muçulmana. O Japão enfrenta o mesmo problema: sua população já está em absoluto declínio, o primeiro gentil declive de uma espiral da morte que ele provavelmente jamais conseguirá escalar e da qual jamais sairá. Será o Japão uma potência econômica se populada por coreanos e filipinos? Muito possivelmente. E a Alemanha, se populada por argelinos? Essa é uma proposição mais difícil. O melhor cenário? O continente europeu termina como uma Viena com impostos em níveis suecos.O pior cenário: Sharia, por volta de 2040; sharia parcial, bem antes disso -- e nós já estamos vendo uma tendência nessa direção. Em julho de 2003, falando diante do Congresso norte-americano, Tony Blair afirmou: "Como os britânicos bem sabem, todos os poderes predominantes parecem por um tempo invencíveis mas, em fato, isso é transitório. A questão é: o que você deixa para trás?"

Excelente questão. A Inglaterra jamais poderá brandir novamente o poder sem igual de que desfrutou em seu apogeu imperial, mas a herança britânica resiste, de um modo ou de outro, em muitos dos principais poderes regionais do mundo contemporâneo - Austrália, Índia, África do Sul - e em dúzias de pequenas ilhas-Estado, do Caribe ao Pacífico. Se a China algum dia tomar lugar como uma nação avançada, será porque a República Popular aprende mais da Hong Kong britânica do que Hong Kong aprende do Pequeno Livro Vermelho(De Mao Tse Tung). E, claro, o poder dominante de nosso tempo deriva seu caráter político de súditos britânicos do século XVIII, que levaram as idéias inglesas um pouco além do que a pátria mãe estava disposta a fazer.

Uma década e meia após a vitória na Guerra Fria e do triunfalismo do fim-da-história, a pergunta "o que você deixa para trás?" é mais urgente do que a maioria de nós esperava. "O Ocidente", como um conceito, está morto, e o Ocidente, enquanto fato demográfico, está morrendo. Com o quê Londres - ou Paris, ou Amsterdã - se parecerá em meados dos anos 30? Se os políticos europeus não fizerem nenhuma tentativa séria nesta década de desacostumar o populacho de suas insustentáveis semana s de 35 horas, aposentadoria aos 60 etc., então, para manter o atual nível das pensões e dos serviços públicos de saúde, a União Européia terá de importar tantos trabalhadores da África de Norte e do Oriente Médio que ela estará bem encaminhada na direção de uma maioria muçulmana por volta de 2035. Do modo como as coisas vão, os muçulmanos já são a principal fonte do aumento populacional nas cidades inglesas. Pode uma sociedade se tornar mais e mais islâmica em seu aspecto demográfico sem se tornar mais e mais islâmica em seu aspecto político?

Este deveria ser um problema da esquerda. Eu sou um conservador - não estou inteiramente no mesmo barco que o programa islamita quando se trata de decapitar sodomitas e assim por diante, mas eu concordo que Britney Spears se veste como uma puta: estou com o mulá Omar nessa. Por que então, se sua grande preocupação é o feminismo ou o aborto ou o casamento homossexual, você tem tanta certeza de que o culto à tolerância prevalecerá uma vez que o maior grupo demográfico em sua sociedade é alegremente intolerante? Quem, no fim das contas, serão as primeiras vítimas do colapso das taxas de natalidade do Ocidente? Mesmo que se tome a posição otimista de que a Europa será capaz de resistir à paulatina imposição da sharia que atualmente traga a Nigéria, permanece o fato de que o mundo muçulmano não é notório por acreditar no valor do "direito de uma mulher a escolher", em qualquer sentido. Em 2004, assisti a um grande comício abortista em Washington no qual Ashley Judd e Gloria Steinem eram aclamadas por mulheres acenando placas que diziam "Mantenham seu Bush longe de meus pentelhos" (Keep your Bush off my bush), e imaginei que aquilo era o equivalente a uma festa do chá de capitalistas russos em 1917. Ao priorizar o "direito de escolher", as mulheres ocidentais estão entregando suas sociedades nas mãos de sujeitos muito mais patriarcais do que o pai de família de um seriado televisivo dos anos 1950. Se algumas daquelas mulheres marchando por seus "direitos reprodutivos" ainda têm bebês, elas poderiam gostar de ponderar algumas realidades demográficas: uma garotinha nascida hoje dificilmente será, quando tiver 40 anos, livre para emproar-se em meio a demonstrações na Paris ou na Amsterdã Eurábicas cantando "Tire as mãos de meus pentelhos!"

Pouco antes da eleição de 2004, aquela eminente analista política, Cameron Diaz, apareceu no programa de auditório de Oprah Winfrey para explicar o que estava em jogo:"As mulheres têm tanto a perder. Quero dizer, nós poderíamos perder o direito a nossos corpos. . . . Se você acha que o estupro deveria ser legalizado, então não vote. Mas se você acha que tem direito a seu corpo", advertia ela às telespectadoras de Oprah, "então você deveria votar." Pobre Cameron. Duas semanas depois, as pessoas que ela temia venceram. Ela perdeu todos os direitos sobre seu corpo. Ao contrário de Alec Baldwin, ela não pôde sequer se mudar para a França. Seu corpo foi apreendido no Terminal D. Mas, após ter classificado a eleição presidencial de 2004 como um referendo sobre o direito ao estupro, a srta. Diaz poderia estar interessada em saber que os homens desfrutam daquele direito sob muitos códigos legais islâmicos ao redor do mundo. Em seu livro "The Empty Cradle" (O Berço Vazio), Philip Logman pergunta: "Então de onde virão as crianças do futuro? Elas virão cada vez mais de pessoas que estão em disputa com o mundo moderno. Essa tendência, se sustentada, pode levar a cultura humana para fora de seu atual curso mercadológico, individualista e modernista, criando gradualmente uma cultura anti-mercadológica dominada pelo fundamentalismo - uma nova Idade das Trevas." Em suma, Cameron Diaz: há lá fora coisas piores do que John Ashcroft.O ponto abordado pelo Sr. Longman é bem trabalhado. As refinadas antenas dos esquerdistas ocidentais fazem com que eles bradem "Racismo!" sempre que alguém levante a questão de se haverão quaisquer italianos vivendo na zona geográfica marcada como Itália dentro de uma ou três gerações.

Afligir-se quanto a que proporção da população é "branca" é grotesco e inapropriado. Mas aqui não se trata de raça, e sim de cultura. Se 100% de sua população crêem na democracia pluralista liberal, não importa se 70% deles são "brancos" ou se apenas 5% o são. Mas se uma parte de sua população crê na democracia pluralista liberal e a outra não, então se torna uma questão de máxima importância saber se a parte que crê corresponde a 90% da população ou a apenas 60%, 50%, 45%.

Desde que o presidente revelou a assim chamada Doutrina Bush - o plano de promover a liberdade em meio ao mundo árabe - inúmeros "progressistas" vêm regularmente afirmando não haver evidências de que os muçulmanos querem liberdade e, de fato, que o Islã é incompatível com a democracia. Se isso é verdade, este é um problema não para o Oriente Médio de hoje, mas para a Europa de depois de amanhã. De acordo com uma pesquisa feita em 2004, mais de 60% dos muçulmanos britânicos querem viver sob a sharia - dentro do Reino Unido. Se uma população "em disputa com o mundo moderno" é o grupo com as mais rápidas taxas de procriação do planeta - se houver mais nações muçulmanas, mais muçulmanos fundamentalistas dentro daquelas nações, mais e mais muçulmanos dentro de nações não-muçulmanas, e mais e mais muçulmanos representados em mais e mais instituições transnacionais - quão segura é uma aposta na sobrevivência do "mundo moderno"? Quase nada."O que você deixa para trás?", perguntou Tony Blair. Haverá apenas pouquíssimos e muito idosos alemães e franceses e italianos étnicos por volta da metade deste século. O que eles deixarão para trás? Territórios que por acaso carregam seus nomes e mantêm umas poucas construções antigas? Ou as raças européias em estágio terminal entenderão que o único legado que importa é se as pessoas que viverão naquelas terras após elas estarão reconciliadas com a democracia liberal e pluralista? É a demografia, estúpido. E, se elas não puderem reunir forças para mudar de curso, então "O que você deixa para trás?" é a única questão que importa.

The New Criterion. Este artigo, versão de uma palestra apresentada numa conferência organizada pela The New Criterion

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