quarta-feira, 30 de julho de 2008

PÔR FIM AO GOVERNO LULA

Roberto Mangabeira Unger

AFIRMO que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.

Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas. Imiscuiu-se, e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas e negócios privados. E comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de recursos orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos.

Afirmo que a aproximação do fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do presidencialismo e não leva a Constituição a sério.

Afirmo que descumpririam seu juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os mandatários que, em nome de lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu impedimento. No regime republicano a lealdade às leis se sobrepõe à lealdade aos homens.

Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.

Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou.

Afirmo que a oposição praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes e aderentes ao mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro que sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas.

Afirmo que as bases sociais do governo Lula são os rentistas, a quem se transferem os recursos pilhados do trabalho e da produção, e os desesperados, de quem se aproveitam, cruelmente, a subjugação econômica e a desinformação política. E que seu inimigo principal são as classes médias, de cuja capacidade para esclarecer a massa popular depende, mais do que nunca, o futuro da República.

Afirmo que a repetição perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, nos corações dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga intocável e perpétuo.


Afirmo que, nesse 15 de novembro, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de presidir as comemorações da proclamação da República aos que corromperam e esvaziaram as instituições republicanas."

ROBERTO MANGABEIRA UNGER


Roberto Mangabeira Unger é carioca. Não parece, nem pelo sotaque de norte-americano falando português nem pelo, digamos, ‘jeitinho sisudo’, mas ele nasceu no Rio de Janeiro, em 1947, filho de mãe brasileira, a poeta e jornalista Edyla Mangabeira, e de pai alemão, o advogado Artur Unger, que era naturalizado estadunidense. Aos quatro meses de idade foi morar com a família em Nova York, onde viveu até os 11 anos, quando seu pai faleceu de infarto fulminante, em 1959. Nos EUA, em casa, Unger e sua irmã falavam inglês. Português, só eventualmente, com uma ou outra empregada da família que era brasileira ou portuguesa. Entretanto, nas férias de verão, Roberto vinha ao Brasil, onde ficava com seu avô, o político baiano Otávio Mangabeira que foi ministro das Relações Exteriores no governo Washington Luís (1926-1930), governador da Bahia e senador pela Bahia – período durante o qual morava no Rio de Janeiro.

Depois da morte do pai, Roberto Mangabeira Unger volta ao Brasil e, dez anos mais tarde, em 1969, formou-se em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dizem que, por estar sendo espionado pelo governo militar, em 1971, Unger voltou aos EUA e, no mesmo ano, então, tornou-se o mais jovem professor contratado pela Universidade Harvard, aos 22 anos e, depois, aos 25 anos, também, o mais jovem professor titular, na história daquela universidade, onde leciona Filosofia do Direito.
Em 1977, licenciou-se de Harvard e veio ao Brasil para iniciar seu projeto de trajetória política. Ao lado de Ulysses Guimarães, participou da fundação do PMDB. Mais tarde, em 1982, filiou-se ao PDT e, nas eleições presidenciais de 1989, trabalhou na campanha de Leonel Brizola. Chegou a ser candidato a deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro, em 1990, quando obteve apenas 9 mil votos e não conseguiu ser eleito. Nas eleições de 1994, colaborou novamente com a campanha de Brizola.

Entre as campanhas e empreendimentos políticos, Unger acabava sempre retornando à vida acadêmica, em Harvard. Em meados de 1997, Mangabeira Unger decide mudar-se ‘de mala e cuia’ para o Brasil, indo residir em São Paulo, com sua mulher Tamara Lothian, uma americana, e seus quatro filhos, ainda em idade escolar. Os meninos foram para uma escola americana e Unger, já defiliado do PDT, foi trabalhar um escritório de advocacia, enquanto se preparava para colaborar na campanha presidencial do candidato Ciro Gomes, então no PPS, em 1998.

Mangabeira largara, mais uma vez, com licença não remunerada, um emprego estável de professor em Harvard, onde lecionava havia 28 anos, e que lhe dava estabilidade e salário na faixa de 150.000 dólares por ano.

Na disputa presidencial de 2002, continuou apoiando Ciro Gomes. No início daquele ano, Mangabeira havia se lançado pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, mas o professor foi acusado de comprar votos (o que ele nega) e não deu certo.

Com a vitória de Lula, naquele ano, Mangabeira, de volta ao circuito Harvard-Brasil se tornaria um dos mais severos críticos do governo.

Nesse meio tempo, também ganhava a vida como consultor da Brasil Telecom entre 2002 e 2005, e, por essa função, recebeu US$ 1,176 milhão, sem contar despesas de hospedagem, de refeição, do aluguel de um apartamento no Rio e de passagens aéreas, nos anos de 2003, 2004 e 2005. Nesse período, a Brasil Telecom também pagou US$ 675 mil ao "trust" administrado por Mangabeira. Em 2006, a nova administração da BrT via vários problemas na atuação de Unger. Em primeiro lugar, o fato de, apesar de contratado como consultor, não ter sido encontrado na empresa nenhum trabalho elaborado por ele, e, em segundo, porque, apesar de ser contratado da empresa de telefonia, havia indícios de que, como "trustee", Mangabeira tenha atuado para defender interesses não da Brasil Telecom mas do grupo Opportunity. O indício seria o fato de ele não ter se pronunciado, até aquela ocasião, em relação à extinção das ações judiciais da BrT contra a Telecom Itália, pelo que o Opportunity teria recebido US$ 65 milhões, e que ocorreu logo depois de o Opportunity ter firmado, em 28 de abril de 2005, acordo com a Telecom Italia para tentar transferir o controle da BrT aos italianos. Em janeiro de 2006, ele declarou que nunca tomou ou tomará medidas para beneficiar o grupo Opportunity em detrimento da Brasil Telecom.

Voltando à polícia, em 2005, chegou a se lançar pré-candidato à Presidência da República, para as eleições de 2006. Foi à TV no horário político do nanico PHS e ganhou, inclusive, a adesão de Caetano Veloso, que o definiu como um “aventureiro do bem” http://www.youtube.com/watch?v=pwGnWjEpngo. Ele chegou a sonhar em se tornar o presidenciável oficial do PDT de Brizola. Mas, este veio a falecer em 2004 e os planos de Mangabeira não deram certo.

Depois disso, Mangabeira ajudou a fundar o PRB (Partido Republicano Brasileiro), do qual é vice-presidente nacional. Em elaboração desde 2003, o registro definitivo foi emitido em 25 de agosto de 2005. O partido é o centro de polêmica, por suspeita de que tenha arranjado assinaturas para fundação dentro da Igreja Universal do Reino de Deus e também por ser acusado de querer reunir todos os parlamentares evangélicos numa única bancada. Mangabeira Unger é ateu – tudo a ver com o partido...

Finalmente, em junho de 2007, Roberto Mangabeira Unger conseguiu, depois de 30 anos de tentativas frustradas, um posto no governo do país, ao aceitar o cargo de ministro para assuntos estratégicos no governo de Lula da Silva, que qualificara de o ‘mais corrupto da história desse país’. Mais uma vez, larga seu emprego muitíssimo bem remunerado, em Harvard, desta vez pelo trabalho no governo, que lhe rende cerca de R$ 10 mil, brutos, por mês.

A família? Esta já voltou para os EUA faz tempo. Hoje, sua esposa Tamara leciona direito e finanças na Universidade de Columbia; seu filho mais velho freqüenta Harvard, e seus outros três filhos estão em internatos nos Estados Unidos.

Mangabeira assumiu o ministério em 2007. À época, consultou a Comissão de Ética Pública da Presidência para saber se poderia acumular o cargo no governo com a atuação de "trustee" da BrT. A comissão respondeu negativamente. Em julho, Mangabeira enviou ao Jornal Folha de São Paulo uma carta em que afirmava ter renunciado, em "caráter irrevogável e irretratável, sem qualquer condição", ao cargo de "trustee" da Brasil Telecom (Mangabeira Unger é pressionado a desistir de nomeação).

Hoje, as investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, apontam que as investidas do grupo Opportunity, do economista Daniel Dantas, na região Amazônica, podem ter recebido uma ajuda de peso de Roberto Mangabeira Unger, como figura fundamental nos projetos de mineração e agronegócio – nova aposta de investimentos do grupo –, principalmente no Pará (http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=23498). O ministro nega.

domingo, 27 de julho de 2008

A LINHA MAGINOT






O dia 10 de Maio de 1940 marca o ataque alemão contra os aliados ocidentais. O objetivo é atacar a França e as forças expedicionárias britânicas que se encontram a norte. Mas em vez de atacar diretamente o território francês, os alemães vão evitar a linha Maginot, atacando diretamente a Bélgica e penetrando na floresta das Ardenas, que era vista pelos aliados como uma floresta densa e impenetrável, onde as estreitas estradas impediam (achavam os generais franceses) a operação de forças inimigas.

A linha Maginot

Durante os anos 30, a França tinha assumido um posicionamento completamente defensivo relativamente à Alemanha e isso levou a construção de uma impressionante e caríssima linha de defesas, conhecida pelo nome do Homem que a promoveu, Andre Maginot.


Maginot era um político francês, cuja desconfiança da Alemanha cresceu com o tempo. É ele que dirige a faz pressão política para que a França construa a linha de defesa na fronteira entre os dois países, linha que será aprovada pelo orçamento francês de 1930. A linha Maginot defenderia a França da Alemanha, e, além disso, por estar construída na Alsácia Lorena, garantiria que aquela parte do território não mais cairia em mãos alemãs.

A linha Maginot era uma linha defensiva poderosíssima, mas foi construída desde a fronteira suíça para até norte, chegando apenas ao ponto em que se juntam as fronteiras da França da Alemanha e da Bélgica e Luxemburgo.

Durante os anos 30, ocorreram negociações entre franceses e belgas, sobre a possibilidade de construir defesas comuns a belgas e franceses, prolongando a linha Maginot pela Bélgica integrando as fortalezas belgas da linha Namur-Liege-Antuérpia, mas problemas políticos, especialmente o receio belga de afrontar a Alemanha levaram a atrasos nas negociações. Os franceses optaram então por prosseguir a sua linha defensiva entre a fronteira belga e francesa, mas essa linha, cuja construção sofreu atrasos, nunca atingiu o nível de eficácia da linha fortificada que separava a Alemanha da França.

A 10 de Maio de 1940, a Alemanha efetua uma operação relâmpago, destinada a ultrapassar o problema levantado pela linha Maginot. Embora ocorressem ataques diretos sobre a linha, o principal ataque alemão ocorreu imediatamente a norte do sector onde terminava a parte mais fortificada da linha Maginot e onde tinha inicio a linha ainda pouco fortificada cuja construção tinha sido iniciada demasiado tarde.

Os belgas, que tinham tentado manter a sua neutralidade, são fortemente atacados, exatamente naquele que consideravam ser o seu mais importante ponto defensivo, o forte de Eben-Emael, construído entre 1932 e 1935, com características idênticas aos fortes de linha Maginot. O forte estava preparado para se defender de infantaria e veículos, numa guerra de trincheiras, mas tinha uma única arma antiaérea. Um ataque de pára-quedistas alemães toma no primeiro dia do ataque, o mais importante ponto de defesa.

A Holanda foi igualmente atacada por grande número de forças aerotransportadas, que agindo na retaguarda, provocaram um caos completo quer entre holandeses quer entre belgas. Mas quer a Bélgica quer a Holanda não foram atacadas por grandes unidades blindadas alemãs, as quais estavam secretamente na região das Ardenas.

Portanto, as operações contra a Holanda e o ataque a Eben-Emael foram operações secundárias, dado que o grosso das tropas alemãs, estão no sector central e avançam com especial vigor na região das Ardenas, julgada uma floresta intransponível, e defendida apenas por tropas de segunda linha.

Enquanto que as forças francesas e as duas divisões britânicas a norte, avançam para apoiar a defesa da Bélgica, mais a sul, os alemães, atravessando as Ardenas, vão aparecer em Sedam.

Em apenas três dias, as tropas alemãs, com as divisões Panzer à cabeça, ultrapassam a linha de florestas das Ardenas, atingindo o rio Mosa (Mosel) a 13 de Maio. Quando isso acontece, e as notícias chegam a Paris de que os alemães conseguiram chegar à cidade de Sedan a 15 de Maio, é o pânico nas estradas francesas. Atingindo Sedan, as velozes unidades blindadas alemãs inflectem para norte, com o objetivo de cortar em dois as forças aliadas. O novo primeiro ministro da França telefona de urgência a Churchil e comunica-lhe que a frente foi quebrada. Pede aos britânicos que enviem mais reforços e especialmente aeronaves para tentar reduzir a supremacia aérea dos alemães, mas os britânicos recusam engajar na luta as suas reservas de caças, temendo que viessem a fazer falta mais tarde para defender a própria Grã Bretanha.

Os britânicos, porém, continuarão a enviar tropas para França, pois até Junho ainda vão enviar mais uma divisão para território francês.

Os reforços britânicos não vão servir de muito. Os franceses não conseguem evitar o avanço dos blindados alemães para norte até ao canal da mancha.

Em 20 de Maio, apenas 10 dias depois do inicio da operação, as tropas avançadas das divisões blindadas do general Guderian atingem o canal.

As divisões britânicas e parte do exército francês estão agora isoladas do resto das forças francesas.

A 21 de Maio os britânicos e franceses tentam cortar o cerco atacando em Arras e Cambrai, numa operação arriscada que por sua vez poderia (se tivesse sucesso) cortar os abastecimentos das linhas avançadas alemãs.

Sem conseguir resistir as forças aliadas retiram para Dunquerque a 26.A 28 de Maio 350.000 homens estão cercados em Dunquerque pelos alemães, aguardando evacuação.

A artilharia britânica utiliza todas as suas munições disponíveis para impedir o avanço alemão. Na Grã Bretanha é feito um apelo a todos os pescadores e a todos os donos de qualquer coisa que flutue, para que façam pelo menos uma viagem até às costas de Dunquerque para evacuar soldados.

Os alemães estão também desorganizados, os seus avanços ocorreram em toda a linha e necessitam tempo para evitar que as suas próprias linhas de abastecimento entrem em colapso. Esses dias de reorganização serão vitais.

Entre 28 de Maio e 4 de Junho, são evacuados 300.000 homens. Só no dia 31 de Maio são evacuados 68.104 soldados. Em 1 e 2 de Junho, com as forças reorganizadas, a artilharia e a força aérea alemãs atacam furiosamente as praias de Duquerque. A 4 de Junho, o contratorpedeiro Shikari, abandona a praia, com as últimas forças evacuadas. A 10 de Junho a Itália declara guerra à França.

A evacuação das forças britânicas, e a recusa destes em enviar mais aviões da R.A.F. para tentar combater a Luftwaffe, têm um peso psicológico tremendo. Os franceses acham-se traídos e abandonados pelos britânicos. No entanto, desde a retirada de Dunquerque até ao armistício, continuarão a luta contra os alemães e resistirão ainda às tentativas de avanço de quatro exércitos italianos.




A Linha Maginot (francês ligne Maginot) foi uma linha de fortificações e de defesa construída pela França ao longo de suas fronteiras com a Alemanha e a Itália, após a Primeira Guerra Mundial, mais precisamente entre 1930 e 1936.

O termo linha Maginot designa às vezes o sistema inteiro, e às vezes unicamente as defesas contra a Alemanha. As defesas contra a Itália são chamadas linha Alpina.

O complexo de defesa possuía várias vias subterrâneas, obstáculos, baterias blindadas escalonadas em profundidade, postos de observação com abóbadas blindadas e paióis de munições a grande profundidade.

O primeiro a propor a construção de um sistema de defesa ao longo da fronteira alemã foi o Marechal Joffre em 1927. O princípio da linha Maginot, batizada com o nome do ministro da Defesa francês André Maginot (1877-1932), veterano mutilado da guerra de 1914-1918, foi debatido na França durante quase 10 anos pelo Conselho Superior de Guerra, sob a presidência do marechal Pétain. Os planos definitivos foram aprovados em 1929 por Paul Painlevé, então ministro da Guerra.

Neste mesmo ano, o Parlamento votou um primeiro financiamento de mais de 1 bilhão de francos franceses, e os trabalhos começaram em 1930. Os trabalhos foram realizados pela STG (Section Technique du Génie), sob a supervisão da CORF (Commission d'Organisation des Régions Fortifiées). Maginot tornou-se ministro da Guerra em 1929 e foi um ardente defensor da fortificação, mas morreu de intoxicação alimentar por ostras em 1932 e jamais pôde ver realizado seu grande sonho de defesa.

A maior parte dos trabalhos estava terminada em 1936, no momento em que a ameaça hitlerista parecia lhe dar toda a justificação de que precisava: era a mais formidável linha defensiva militar jamais construída no mundo, e era de grande complexidade tecnológica e militar. Seu custo total foi de 5 bilhões de FF (da época). Planejada durante a década de 20, a linha Maginot foi pensada para "guerra de trincheiras". Com suprimentos próprios de energia, munição e alimentos, a linha era uma série de fortalezas e estruturas interligadas, paralela à fronteira franco-germânica. Era composta de 108 edificações principais (fortes) a 15 km de distância uns dos outros, mais edificações menores e casamatas, e mais de 100 km de galerias.

O ataque alemão

A linha Maginot não evitou a derrota da França no início da II Guerra Mundial em 1940, na medida em que as divisões alemãs a contornaram atacando a região de Sedan, além da sua extremidade oeste. Os exércitos aliados foram, assim, cortados ao meio: uma parte das tropas francesas, inglesas e belgas foram cercadas e empurradas até as praias de Dunquerque, para onde os britânicos enviaram centenas de embarcações para recuperar os soldados presos nessa armadilha, no que ficou conhecido como a Operação Dínamo. As tropas do leste e regimentos dispostos atrás da linha ficaram presos entre a fronteira alemã e as divisões mecanizadas alemãs, que haviam alcançado a fronteira suíça.

No início de junho as forças alemãs já haviam isolado a linha do resto da França, e o governo francês já dava sinais que aceitaria um armistício, que foi assinado em 22 de junho em Compiègne. Mas a linha ainda estava intacta e ocupada por um número considerável de oficiais desejando manter a posição e continuar a guerra; o avanço italiano foi contido com sucesso. Ainda assim, Maxime Weygand assinou a rendição e as tropas foram feitas prisioneiras.

Um erro estratégico

A principal razão para a falha da linha Maginot é o fato de não se estender até ao Mar do Norte. Por diversas razões, entre as quais a falta de tempo e de financiamento, a sua construção foi interrompida a 20 km a leste de Sedan, em Montmédy, fazendo face à fronteira alemã, ao Grão-Ducado de Luxemburgo e a uma parte da fronteira franco-belga. O segmento Longuyon-Lauterbourg era particularmente reforçado, com edificações equipadas de artilharia pesada, enquanto que as defesas do Reno e a oeste de Longuyon eram menos fortes. Certas partes não haviam recebido o equipamento que lhes era destinado no momento da declaração da guerra. Além disso, a neutralidade da Bélgica confortava os argumentos daqueles que não acreditavam em uma ofensiva inimiga a oeste da linha Maginot.

Foi assim que se desenvolveu um sentimento de segurança com a linha Maginot, onde praticamente cada francês estava convencido de que estava protegido de toda agressão alemã. No entanto, era preciso ser ingênuo ou incompetente para imaginar que a linha pudesse resistir suficientemente a um ataque violento e localizado, apoiado pela artilharia pesada e pela aviação moderna. Sem contar com a tática alemã do Blitzkrieg e de contornamento da linha pelas Ardenas. No pior dos casos, a linha poderia conter um ataque surpresa frontal durante o tempo necessário à França para organizar uma mobilização geral.

Neste contexto, os pedidos ansiosos do general De Gaulle e de Paul Reynaud em 1935 em favor do desenvolvimento de divisões blindadas para assegurar a defesa do território não coberto pela linha Maginot faziam sentido, mas não foram ouvidos. O general Maurin, então ministro da Guerra, durante um debate no Parlamento, respondeu a Paul Reynaud : « Como se pode ainda pensar em termos de ofensiva quando gastaram-se bilhões para estabelecer uma fronteira fortificada ? »
No dia seguinte a essa brilhante declaração, Hitler rasgava simbolicamente o tratado de Versalhes e instituía a conscrição compulsória para 500 000 homens.

A linha depois da II Guerra Mundial

Após a guerra, a linha foi novamente ocupada pelos franceses e beneficiou de algumas modificações. Entretanto, quando a França se retirou da OTAN (em 1966), grande parte das fortificações foram abandonadas. Com o crescimento do política nuclear independente francesa em 1969, a linha foi abandonada pelo governo, com seções postas em leilão público e o resto abandonado.

O termo "Linha Maginot" tem sido usado como metáfora para algo em que se confia apesar da sua ineficiência. Na verdade, ela fez exatamente aquilo para o qual fora planejada, protegendo uma parte da França e forçando o agressor a contorná-la (e os poucos fortes da linha Maginot que foram atacados pelos alemães resistiram muito bem). Como planejada inicialmente, a linha Maginot era parte de um largo plano de defesa, no qual os agressores deveriam encontrar tropas de resistência francesas, mas o planejamento falhou estrondosamente, fazendo com que a linha perdesse completamente sua razão de ser.

Hoje em dia, associações voluntárias restauraram grandes setores da linha, abrindo-a à visitação pública, o que atrai muitos turistas à região. Passear pelos túneis e visitar os quilômetros de galerias, fortificações e as diversas dependências (quartos de dormir, cozinhas, enfermarias, arsenais, linhas férreas, etc) é uma experiência enriquecedora.