quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Caros leitores, amigos, colaboradores

Ao contrário do que possa ter parecido, eu jamais abandonei minha luta pela verdadeira democracia, pelo triunfo do bem e da verdade; e pela imprescindível liberdade de expressão, de labor e de ir e vir a que todos os seres humanos deveriam ter direito.

Não, eu não estava na valorosa luta virtual. Fui ao campo de batalha, me feri, mas não perdi nenhuma batalha que fosse importante e necessária para levar exemplos de garra, de luta, de força de vontade, de patriotismo, de coragem de dizer o que deveria ser dito, de perseverança e de altruísmo.

Estive, de agosto a novembro deste ano de 2009, fazendo um curso na Escola Superior de Guerra – lugar que hoje, infelizmente, devo confessar, posso descrever, na minha opinião, como território de liberdades parlatórias cerceadas, como vigiado, e como de gente, ou condescendente com, ou sem coragem para mudar, a atual situação caótica, esquerdopata e xenófoba anti-americanista em que se encontra nosso país.

Portanto, fiquei sem escrever durante algum tempo e mais algum para me recuperar de todos os golpes que durante aquele período atingiram-me. O resultado físico foi um distúrbio psicossomático que me fez reter líquidos em excesso (4 Kg de peso ganhos somente por isso) e que causou feridas e coceiras nas mãos e nos pés. Ainda hoje estou em tratamento.

Muita coisa será explicada ao final do filme que assistirão abaixo. Mas, há muito mais o que ser contado sobre este episódio da minha vida, cujo sofrimento só me fez ter mais certeza ainda daquilo que desejo e pelo que lutarei até o fim.

Agradeço a todos que a mim me escreveram, durante o tempo em que estive ausente da rede; a todos que perseveraram em suas doações mensais e aproveito para agradecer também a todos que belas mensagens de apoio enviaram-me à época em que escrevi meu último texto, pedindo ajuda. Devo muitas mensagens de agradecimento que merecem especial referência particular. Ainda as escreverei. Hoje, tenho 14 mil mensagens na caixa de entrada de meu e-mail. É óbvio que não poderei ler todas. Por isso, peço a gentileza de que reenviem as que julgarem indispensáveis e as de cunho particular.

Finalmente, o site será reformado e modernizado, até que, a partir de janeiro, possa estar pronto para levar a todos bons artigos e informações. Espero que 2010 traga mais colaboradores, pois o financiamento pelo leitores é a maior arma que o homem de mídia pode ter para que seu único compromisso seja com a busca incessante pela verdade e pelas informações que nos são ocultadas pela grande imprensa – hoje eu sei, mais por uma questão de sobrevivência do que propriamente de ideologia e/ou de posicionamento. Espero, também, que haja cada vez mais adesões para o recebimento de newsletter, para que as notícias alcancem o maior número possível de leitores.

Devo dizer que fui expulsa da ESG, sob a justificativa de excesso de faltas. Meus colegas de curso, entretanto, sabem perfeitamente que houve pessoas que faltaram muito mais do que eu – e não por estarem agindo em benefício da ESG, como foi o meu caso – do que os senhores leitores poderão ter vaga idéia depois de assistirem ao filme abaixo. Fui expulsa por discriminação político-ideológica mesmo – o que eu teria facilmente admitido como direito da Instituição, se este tivesse sido esse o motivo declarado oficialmente. Coisa que não aconteceu.


Aos colegas de curso especialmente,
Devo dizer que, já nos últimos dias de curso, recusei-me a fazer minha defesa por escrito – já que tinha material comprobatório para isso, inclusive tendo recebido faltas em dias nos quais estive presente nas aulas (*) – e que esta tenha sido a única forma a mim oferecida como a que seria válida e aceita. Recusei porque, para isso, teria que citar, nominalmente, todos os que tiveram mais faltas do que eu, todos os que passaram o curso todo na internet e todos para os quais haviam sido abertas exceções com horários de chegada, de saída, além de licenças para viagens de trabalho. Também teria que revelar os nomes daqueles que seriam, digamos, radicais no sentido de como eliminar os ‘inimigos’. Além disso, teria que citar nominalmente aqueles que cometeram irregularidades disciplinares descritas nos códigos militares (e elas aconteceram), além de ter que delatar a pessoa que disse ao sub-comandante da Escola ter me enviado comunicado/aviso preventivo, por escrito, por ter atingido os 3% de faltas – o que JAMAIS ocorreu - e que foi a mesma que nunca levou ao conhecimento do sub-comandante e do comandante que, à certa altura, eu pedi para que me tivesse sido dada a opção de requerer o meu afastamento do curso – na medida em que o que eu não suportava era ser alienada do mesmo por faltas (já que estas haviam ocorrido por estar eu, na maioria absoluta dos casos, trabalhando pela ESG e já que eu não havia tido nenhuma das outras faltas abonadas – uma justificada com atestado médico, outra com orçamento de oficina por ter tido o carro quebrado no caminho para a Escola e outra por ter comparecido à missa pelo falecimento do pediatra de meus filhos (amigo de mais de 16 anos), sendo que, nesta última, somente pelo período da manhã).

Assim sendo, para evitar maiores e mais e mais constrangimentos, concordei em assinar um documento no qual pedia para continuar no curso, como ouvinte, mesmo sabendo que não receberia certificado no final do mesmo. Assim procedi para que não tivesse que prejudicar ninguém, para que pudesse ter a oportunidade de mostrar à turma que os ideais, a lealdade, a perseverança, a abnegação e o altruísmo são valores que precisam ser cultivados e incentivados, COM EXEMPLOS e ATITUDES, e não só com palavras. De que teriam valido minhas atitudes de enfrentamento, de coragem de dizer a verdade, de reagir ao que perecesse errado, se, na hora em que tivesse que suportar o exercício do sacrifício, eu simplesmente tivesse colocado meu orgulho, minha raiva, meu ego em primeiro lugar? Não. Eu precisava mostrar ao grupo que servir e sacrificar-se pelos outros deve fazer parte da vida daqueles que acreditam no que possa haver de corajoso e de valioso nos seres humanos.

Devo dizer ainda que, durante minha audiência com o subcomandante e com o comandante da ESG pude dizer aos mesmos tudo o que pensava sobre o que se passava com as FFAA, com a Escola, com a hipocrisia disciplinar, aplicada com diferente rigor, entre uns e outros, e na qual, muitas vezes, alguns se escudavam para simplesmente não fazer o que devesse ser feito. Pude falar da vergonha que sentia pela falta de reação às calúnias que se professam a respeito do Contragolpe de 1964, pela entrega de medalhas a conhecidos terroristas, pela submissão à realidade corrupto-esquerdopata que se instala no país e pelo fiel e voluntário descumprimento à Constituição no que diz respeito ao juramento de manter a liberdade, a democracia e a integridade constitucional e territorial de nosso país – diante de um visível, inegável e contínuo aviltamento de cada um destes itens.

Disse também ao comandante da ESG que não julgava ter cometido erro nenhum durante a aula inaugural, com as observações que fiz, porque eu penso que quem sobe ao púlpito como mestre tem a obrigação de respeitar a inteligência e o nível de informação de sua platéia, não devendo, de forma alguma, falar sobre o que não sabe e/ou dizer coisas que possam vir a ofendê-la, por parecer estar diante de pessoas que não considera inteligentes, bem informadas e capazes de raciocinar. Em assim sendo, considero dever incondicional do ouvinte informar ao professor sobre aquilo que se pensa, que se sabe, com boa argumentação, para que o mesmo se reoriente em relação ao rumo que deva dar a sua aula. Ou seja, quando este tipo de situação acontece, o ofendido é quem está na platéia e é quem tem o dever de informar ao mestre para que este tenha a oportunidade de transformar sua aula. Ao contrário, ofendendo, sim, ao mestre, estarão aqueles que não lhe derem essa chance, por estarem, preconceituosamente, duvidando de sua capacidade, de seus conhecimentos e por estarem roubando-lhe a oportunidade de ensinar o que de melhor possa ter para fazê-lo.

Aproveitei para falar sobre a oportunidade que se perde ao não se permitir que material intelectual, especialmente os produzidos por militares, seja oficialmente comercializado, principalmente em ambientes acadêmicos, nos quais, obviamente, está concentrado o público mais interessado em assuntos que geralmente são específicos. Vender este material onde? Nas Bienais? Não me parece uma regra disciplinar inteligente. Penso que, em cada unidade militar do país, devesse haver uma loja que pudesse vender lembranças, brindes e principalmente material intelectual. Isso gera renda, promove propaganda e patriotismo e dissipa pontos de vista pouco conhecidos, já que a indústria editorial privada não se interessa por muitos destes tipos de literatura. Achei que seria bom deixar esse meu ponto de vista bem marcado. Uma vez que havia citado que se os princípios disciplinares, insistentemente alegados para o meu desligamento (no caso, as faltas) eram tão inalienáveis em relação ao meu caso, também, e muito mais, o deveriam ser em relação a aqueles que deveriam dar o exemplo. É engraçado como pessoas que estufam o peito e apontam seus dedos com tanta facilidade para os erros de outras sentem-se tão ofendidas quando o mesmo acontece com elas, apesar de saberem não ter razão, nem no que fizeram nem para se melindrarem. Porém, fazem-se de vítimas, de injustamente atacadas por aqueles que simplesmente disseram a verdade, de modo a transformarem este último num monstro.

Não, não há monstruosidade nenhuma naqueles que estejam se defendendo, honestamente, do que julgam ser a prática de uma injustiça contra si, principalmente quando não puderam contar com o apoio, com a presença, nem ao menos com a possibilidade de terem tido um tempo para dialogar, com aquele que hoje se faz de vítima, durante todo o processo que acabou resultando numa situação extremamente desagradável, constrangedora e que poderia, com um mínimo de diálogo, de honestidade e de previdência, ter sido evitada.

Da mesma forma, aproveito para dizer aos colegas que não pude comparecer ao churrasco de fim de curso, por estar em reunião com o comandante da ESG, em horário incompatível, e que, igualmente, não pude comparecer à cerimônia de formatura por estar proibida de pisar em solo esguiano. Mas, enviei alguns recados por colegas, que não sei se chegaram a ser repassados. De qualquer forma, ao ler o discurso proferido pelo orador da turma durante a cerimônia, e que suponho ter sido aprovado por todos, pude perceber que fui especialmente homenageada na parte em que dizia: “E se, em algum momento do presente ou do futuro, alguma voz dissonante, se levantar contra a Escola ou contra as pessoas honradas que aqui labutam diariamente em prol da pátria, 28 vozes uníssonas se levantarão na defesa da verdade, da honra e da dignidade com que esta casa vem desempenhando seu glorioso papel na História do Brasil”.

Gostei especialmente da precisão do número 28 – 28 vozes – o que, honesta e evidentemente, me exclui do grupo, mas, ao mesmo tempo, lembra a todos de minha passagem por ele. Graças a Deus! Porque, minha voz dissonante levantar-se-á, sim, se fosse para o bem da Escola, para o bem do Brasil e para o bem dos que por ela passassem; se fosse para que os que não agissem com coragem e com empenho pelo bem da mesma nela não permanecessem; se fosse para que nela fossem feitas todas as mudanças necessárias a fim de que na mesma voltassem a conviver a verdade, a justiça, a liberdade e o compromisso com a descrição honesta das realidades nacionais; se fosse para que psicólogos e professores que, por acaso, pudessem estar recebendo diárias anuais acima da média de todos os que por lá trabalhassem não fossem, quem sabe, os olhos e as vozes que talvez pudessem estar decidindo quem ficaria e quem não ficaria na escola; e, principalmente, se fosse para livrá-la de todo e qualquer aparelhamento e patrulhamento político-ideológico.

Quanto à parte que fala sobre as “vozes uníssonas”... que “se levantarão na defesa da verdade, da honra e da dignidade com que esta casa vem desempenhando seu glorioso papel na História do Brasil”, fico pensando... Será que vozes que não tenham sido capazes nem de se levantar para defender ou para protestar contra o que se passava comigo, que era visivelmente injusto, por ter sido simplesmente notório o fato de que havia quem tivesse faltado mais do que eu ao curso... (Está certo, nem eu valia à pena nem a causa era tão grande e importante assim como a de uma defesa da ESG)... Que era uma causa tão pequena e tão próxima, serão capazes de se levantar para defender grandes causas? É que grandes causas exigem comprometimento que, certamente, resultam em conseqüências, que podem nem sempre ser fáceis de lidar... Sei que é difícil escrever discursos...

Saibam que, EM TODOS OS MOMENTOS em que estive no curso, fui, DE TODAS AS FORMAS, solidária a vocês, até mesmo quando não tinha condições, nem pessoais nem financeiras de o ser, particularmente com o orador, divulgando e defendendo suas habilidades e conhecimentos como historiador, bem como sua palestra registrada em DVD. Lamento, portanto, não ter recebido nem um único telefonema, nem um único e-mail de solidariedade de absolutamente ninguém. Certa vez, durante nossa viagem a São Paulo, surpreendi um colega de classe falando mal de minha pessoa, em voz alta, com um dos dirigentes do grupo, dentro do ônibus - o que, certamente, fez com que muitos que lá estivessem pudessem ter ouvido tais comentários. Talvez, quem sabe, possam ter-lhes dito coisas a meu respeito que, fora de contexto, tenham lhes feito fazer juízo errado a respeito do que quer que tenha feito e/ou dito, quando estive na presença do subcomandante, na do comandante da ESG e até em outras ocasiões...

Costuma-se muito atualmente dizer que sobre fatos há sempre pelo menos três verdades: a de um lado, a de outro lado e o que realmente tenha acontecido. Não concordo. Fatos são fatos e por trás deles só há uma única verdade – aquilo que realmente aconteceu. O que varia sobre um mesmo fato são as versões dos que nele estiverem envolvidos. Essas sim podem ser várias. Mas, se bem apuradas e bem investigadas, dentro de condições normais e sem trapaças, provas concretas e circunstanciais acabarão por fazer prevalecer aquela versão que mais se aproxime do que quer que realmente tenha acontecido. Verdade está relacionada a fatos, a provas; versões relacionam-se a pontos de vista pessoais sobre fatos. Jamais se deixem iludir por esta falácia que pretende relativizar a verdade, sempre com propósitos ilícitos de favorecer esse ou aquele, isso ou aquilo.

Não guardo mágoas porque quem deve julgar as pessoas é Deus e porque realmente acredito na capacidade humana de mudar para melhor... E porque é assim que eu gostaria que fizessem comigo...

O filme abaixo é uma paródia sobre minha estada na ESG. Está cheio de argumentos para reflexão a respeito de nossas vidas. Espero que gostem. É longo, mas pode valer à pena. Ao final, há um texto.

Aproveito para desejar a todos Boas Festas e um 2010 com muita disposição para trabalhar na conquista de nossos ideais e de um futuro melhor.

Guardo boas lembranças, também, da ESG...
Da primeira cena que vi naquela Escola, que foi a do soldado Leonardo discursando, em sua despedida. Bendito foi aquele pronunciamento que se atreveu, no bom sentido, é claro, a fazer um paralelo entre um pensamento do filósofo Sócrates e um trecho de um Salmo bíblico. Foi muito emocionante e muito acertado.
Do incentivador, misericordioso e brilhante discurso do Tenente Coronel Barroso para um determinado palestrante. Discurso que aplaudi de pé – sozinha evidentemente. Entretanto, ainda bem, depois das curtas palavras do emocionado palestrante, todos também aplaudiram de pé.
Da gentileza, da solidariedade e da inteligência do Sargento Alexandre... Da boa vontade do soldado Dias...
Da paciência e da sensibilidade do Tenente Coronel Esteves...
Da solicitude do Coronel Freire...
Da atenção e do apoio do Coronel Barros Moreira, embora possamos ter discordado um pouco sobre formas e meios, já no finalzinho de meu suplício naquela escola...
Do carinho e da atenção do João Paulo, por quem tinha especial carinho devido à sua semelhança com meu irmão mais novo, e a quem também admirava, principalmente por causa da sensibilidade... Daqueles que admirava: Barroso, Medina, Robmilson... Daqueles cujos sorrisos me animavam: Rodrigo e Borges
Do pessoal da limpeza e do cafezinho que com tanto carinho me tratava...
Da Sra. Maria Eliza, de quem não tive oportunidade de me despedir, mas de quem, diariamente, procurava saber notícias e enviar recados de estava disponível para ajudar no que quer que precisasse. Não sei se ela jamais ficou sabendo disso...
Do herói rebelde, do rebelde útil, que foi o nome pelo qual passei a chamar o admirável
CEL. CELESCUEKCI, do DEA e de seu companheiro de palestras - os dois homens sérios, brilhantes e gentís.

(*) Na aula do Cel. Freire, por exemplo, cuja minha presença na mesma foi confirmada, pelo próprio, ao subcomandante, levei falta em 7 tempos.