Roberto Mangabeira Unger é carioca. Não parece, nem pelo sotaque de norte-americano falando português nem pelo, digamos, ‘jeitinho sisudo’, mas ele nasceu no Rio de Janeiro, em 1947, filho de mãe brasileira, a poeta e jornalista Edyla Mangabeira, e de pai alemão, o advogado Artur Unger, que era naturalizado estadunidense. Aos quatro meses de idade foi morar com a família em Nova York, onde viveu até os 11 anos, quando seu pai faleceu de infarto fulminante, em 1959. Nos EUA, em casa, Unger e sua irmã falavam inglês. Português, só eventualmente, com uma ou outra empregada da família que era brasileira ou portuguesa. Entretanto, nas férias de verão, Roberto vinha ao Brasil, onde ficava com seu avô, o político baiano Otávio Mangabeira que foi ministro das Relações Exteriores no governo Washington Luís (1926-1930), governador da Bahia e senador pela Bahia – período durante o qual morava no Rio de Janeiro.
Depois da morte do pai, Roberto Mangabeira Unger volta ao Brasil e, dez anos mais tarde, em 1969, formou-se em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dizem que, por estar sendo espionado pelo governo militar, em 1971, Unger voltou aos EUA e, no mesmo ano, então, tornou-se o mais jovem professor contratado pela Universidade Harvard, aos 22 anos e, depois, aos 25 anos, também, o mais jovem professor titular, na história daquela universidade, onde leciona Filosofia do Direito.
Em 1977, licenciou-se de Harvard e veio ao Brasil para iniciar seu projeto de trajetória política. Ao lado de Ulysses Guimarães, participou da fundação do PMDB. Mais tarde, em 1982, filiou-se ao PDT e, nas eleições presidenciais de 1989, trabalhou na campanha de Leonel Brizola. Chegou a ser candidato a deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro, em 1990, quando obteve apenas 9 mil votos e não conseguiu ser eleito. Nas eleições de 1994, colaborou novamente com a campanha de Brizola.
Entre as campanhas e empreendimentos políticos, Unger acabava sempre retornando à vida acadêmica, em Harvard. Em meados de 1997, Mangabeira Unger decide mudar-se ‘de mala e cuia’ para o Brasil, indo residir em São Paulo, com sua mulher Tamara Lothian, uma americana, e seus quatro filhos, ainda em idade escolar. Os meninos foram para uma escola americana e Unger, já defiliado do PDT, foi trabalhar um escritório de advocacia, enquanto se preparava para colaborar na campanha presidencial do candidato Ciro Gomes, então no PPS, em 1998.
Mangabeira largara, mais uma vez, com licença não remunerada, um emprego estável de professor em Harvard, onde lecionava havia 28 anos, e que lhe dava estabilidade e salário na faixa de 150.000 dólares por ano.
Na disputa presidencial de 2002, continuou apoiando Ciro Gomes. No início daquele ano, Mangabeira havia se lançado pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, mas o professor foi acusado de comprar votos (o que ele nega) e não deu certo.
Com a vitória de Lula, naquele ano, Mangabeira, de volta ao circuito Harvard-Brasil se tornaria um dos mais severos críticos do governo.
Nesse meio tempo, também ganhava a vida como consultor da Brasil Telecom entre 2002 e 2005, e, por essa função, recebeu US$ 1,176 milhão, sem contar despesas de hospedagem, de refeição, do aluguel de um apartamento no Rio e de passagens aéreas, nos anos de 2003, 2004 e 2005. Nesse período, a Brasil Telecom também pagou US$ 675 mil ao "trust" administrado por Mangabeira. Em 2006, a nova administração da BrT via vários problemas na atuação de Unger. Em primeiro lugar, o fato de, apesar de contratado como consultor, não ter sido encontrado na empresa nenhum trabalho elaborado por ele, e, em segundo, porque, apesar de ser contratado da empresa de telefonia, havia indícios de que, como "trustee", Mangabeira tenha atuado para defender interesses não da Brasil Telecom mas do grupo Opportunity. O indício seria o fato de ele não ter se pronunciado, até aquela ocasião, em relação à extinção das ações judiciais da BrT contra a Telecom Itália, pelo que o Opportunity teria recebido US$ 65 milhões, e que ocorreu logo depois de o Opportunity ter firmado, em 28 de abril de 2005, acordo com a Telecom Italia para tentar transferir o controle da BrT aos italianos. Em janeiro de 2006, ele declarou que nunca tomou ou tomará medidas para beneficiar o grupo Opportunity em detrimento da Brasil Telecom.
Voltando à polícia, em 2005, chegou a se lançar pré-candidato à Presidência da República, para as eleições de 2006. Foi à TV no horário político do nanico PHS e ganhou, inclusive, a adesão de Caetano Veloso, que o definiu como um “aventureiro do bem” http://www.youtube.com/watch?v=pwGnWjEpngo. Ele chegou a sonhar em se tornar o presidenciável oficial do PDT de Brizola. Mas, este veio a falecer em 2004 e os planos de Mangabeira não deram certo.
Depois disso, Mangabeira ajudou a fundar o PRB (Partido Republicano Brasileiro), do qual é vice-presidente nacional. Em elaboração desde 2003, o registro definitivo foi emitido em 25 de agosto de 2005. O partido é o centro de polêmica, por suspeita de que tenha arranjado assinaturas para fundação dentro da Igreja Universal do Reino de Deus e também por ser acusado de querer reunir todos os parlamentares evangélicos numa única bancada. Mangabeira Unger é ateu – tudo a ver com o partido...
Finalmente, em junho de 2007, Roberto Mangabeira Unger conseguiu, depois de 30 anos de tentativas frustradas, um posto no governo do país, ao aceitar o cargo de ministro para assuntos estratégicos no governo de Lula da Silva, que qualificara de o ‘mais corrupto da história desse país’. Mais uma vez, larga seu emprego muitíssimo bem remunerado, em Harvard, desta vez pelo trabalho no governo, que lhe rende cerca de R$ 10 mil, brutos, por mês.
A família? Esta já voltou para os EUA faz tempo. Hoje, sua esposa Tamara leciona direito e finanças na Universidade de Columbia; seu filho mais velho freqüenta Harvard, e seus outros três filhos estão em internatos nos Estados Unidos.
Mangabeira assumiu o ministério em 2007. À época, consultou a Comissão de Ética Pública da Presidência para saber se poderia acumular o cargo no governo com a atuação de "trustee" da BrT. A comissão respondeu negativamente. Em julho, Mangabeira enviou ao Jornal Folha de São Paulo uma carta em que afirmava ter renunciado, em "caráter irrevogável e irretratável, sem qualquer condição", ao cargo de "trustee" da Brasil Telecom (Mangabeira Unger é pressionado a desistir de nomeação).
Hoje, as investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, apontam que as investidas do grupo Opportunity, do economista Daniel Dantas, na região Amazônica, podem ter recebido uma ajuda de peso de Roberto Mangabeira Unger, como figura fundamental nos projetos de mineração e agronegócio – nova aposta de investimentos do grupo –, principalmente no Pará (http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=23498). O ministro nega.
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