Meu Pequeno Milagre de Natal
Christina Fontenelle
Certa vez eu e minha família passamos o Natal em Campo
Grande, MS. Meu pai estava servindo por lá. Assim como muitos outros, estávamos
longe de nossos parentes, com quem costumávamos celebrar as noites de Natal.
Minha mãe, que tinha um toque de Midas – tudo que se dispunha a organizar
ficava maravilhoso -, especialmente para reunir pessoas, resolveu promover uma
noite natalina que reunisse todas aquelas famílias que estavam longe de suas
origens. Toda essa gente só caberia na varanda dos fundos da casa e no quintal.
E foi lá que aconteceu. Uma noite de Natal a céu aberto. Imaginem uma mesa
enorme cheia de pratos típicos do Natal, cada um mais bem preparado e decorado
do que o outro. A casa toda iluminada e decorada. Naquele tempo, não havia a
fartura de motivos decorativos que temos hoje no Brasil, mas a casa estava
bonita mesmo assim. Imaginem todas aquelas famílias em volta da mesa fazendo as
orações de Natal. Momento lindo! E o amigo oculto? Bem, amigo oculto nunca é
muito bom, mas, com aquela gente toda, foi a melhor solução. Valeu pelo
simbolismo. Afinal, as pessoas trocam presentes no Natal como se estivessem
enxergando no outro o Jesus irmão-filho-pai-criador. Bom, pelo menos assim
deveria ser.
Dezembro costuma ser mês de chuva em Campo Grande. Naquele
ano não foi diferente – o céu veio abaixo. Na cidade toda, menos no quarteirão
da minha casa. Nenhuma gota. Quando deu meia-noite, o galo cantou. Cantou pela
primeira vez e cantou por três vezes.
Pintuxinha era o nome do meu galo. Lindo! Todo branco,
crista vermelha e uma única pena azul esverdeada na cauda. Naquele tempo
costumava-se vender pintinhos nas feiras livres. As pessoas compravam os
bichinhos, levavam para casa e eles não costumavam sobreviver por muito tempo.
Com o Pintuxinha foi diferente. Ele chegou lá em casa bem pequenino e cresceu
comendo alpiste vitaminado e bebendo água filtrada. Vocês podem não acreditar,
mas ele costumava ficar no jardim da frente de casa para me esperar chegar da
escola. Era eu chegar e ele ficar andando atrás de mim onde quer que eu fosse
e, vez em quando, chegar a cabeça bem perto das minhas mãos para ganhar cafuné.
Ah! E ele atendia pelo nome. Era ou não era especial? Não é à toa que eu tenha
ficado emocionada de vê-lo cantar pela primeira vez naquela noite de Natal.
Pois é, são estes pequenos milagres e a beleza da
confraternização entre os homens que fazem a magia do Natal. Eu tive muitas
noites de Natal maravilhosas em minha vida. Tive sorte. Hoje estou no time das
pessoas para as quais o Natal traz mais agonia e tristeza do que coisas boas.
Talvez isso passe um dia. Mas, considero-me feliz por ter tido o que já tive.
É por isso que eu desejo que cada um de vocês viva uma, duas
ou muitas e muitas noites mágicas de Natal e que pequenos milagres possam
enfeitar suas vidas.
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